Política
VAIDADE NO SERTÃO
Por Rodrigo Melo – Jornal Portal do Sertão
Durante visita a Salgueiro, Pernambuco, o presidente Lula afirmou que “Deus deixou o sertão sem água porque sabia que eu ia trazer”. A frase, embora embalada em tom messiânico, remete a um Lula que parece reviver o auge de sua popularidade no final do segundo mandato, quando se via como figura quase divina, capaz de fabricar sucessores e moldar o futuro político do país com as próprias mãos.
A retórica usada por Lula, longe de mobilizar positivamente, escancara uma tendência preocupante de superestimar sua importância histórica. O uso de Deus como justificativa pessoal de protagonismo na superação da seca nordestina é, no mínimo, inadequado. Mais do que um símbolo de humildade e trabalho, a fala soa como um ato de vaidade e desrespeito às inúmeras lideranças locais e políticas que há décadas se dedicam à causa hídrica da região.
Num momento em que o Brasil enfrenta sérios desafios sociais, econômicos e climáticos, frases de efeito perdem força diante da urgência da ação concreta. Em vez de investir em autoglorificação, o presidente deveria demonstrar liderança com resultados tangíveis. O sertão precisa de água, mas o Brasil precisa, antes de tudo, de seriedade.
IMAGEM: MARCELO CAMARGO/AGÊNCIA BRASIL
